Real Combo Lisbonense - EP

 

Edição Optimus Discos, sob licenciamento Discos Pataca. 
Edição em CD-EP, 1000 exemplares numerados. 
Últimos exemplares à venda, em exclusivo, através da Pataca Discos.
discospataca [at] pataca [dot] pt

 

 

1. A Borracha do Rocha
2. Oh!
3. Sensatez
4. Pepe Fado
5. O Fado É Bom Para Xuxú!
6. Dois Estranhos 

 

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O disco de estreia do Real Combo Lisbonense regista em seis temas a primeira fase de trabalho do grupo desde a sua formação em meados de 2008. 
Este trabalho dá seguimento a um processo de pesquisa do património da música popular portuguesa, com incidência particular nas décadas de 50 e 60 – o momento em que nasceram a música pop e a música de dança em Portugal nas suas expressões modernas e de vocação cosmopolita.

Ao longo desse período, o RCL mergulhou no universo dos estilos musicais específicos da época. Nos diferentes ritmos, balanços, expressões e sonoridades, mas também nas estruturas, harmonias e combinações instrumentais próprias de cada um deles. Em suma, em tudo aquilo que é a essência de uma “música para dançar”, tocada ao vivo e em grupo.

O espaço amplo do armazém onde o RCL regularmente ensaia serviu de base às gravações deste primeiro disco. O local tem condições únicas e características muito distintas que fazem com que a música do combo soe particularmente bem. Depois de sofrer algumas adaptações e transformado em Estúdios Pataca, este espaço albergou o estúdio móvel Golden Pony e a sua equipa técnica – Eduardo Vinhas e Pedro Magalhães.

 

Durante 5 dias o RCL gravou 8 temas, seguindo o método de tocar “ao vivo em estúdio” tal como nos ensaios. Para as vozes, foi improvisada uma cabine, em frente dos músicos, de forma a conservar o take directo da voz cantada durante a actuação de toda a banda em conjunto.

O equipamento de gravação que o Golden Pony montou nos Estúdios Pataca – em particular a cuidadosa selecção de microfones –, aliado a uma abordagem criativa das possibilidades acústicas do espaço, foram as chaves para a sonoridade deste disco: um som diversificado de canção para canção, rico em sugestões espaciais, exploradas em função das particularidades de cada tema.

Gravado nos Estúdios Pataca por Eduardo Vinhas e Pedro Magalhães (Estúdio Móvel Golden Pony), entre os dias 1 e 6 de Maio de 2009. Misturado no Estúdios Golden Pony. Masterizado por Tó Pinheiro da Silva. Produzido por João Paulo Feliciano (Discos Pataca).

 

 

 

Sobre as músicas:

 

A Borracha do Rocha
Música e Letra: Mário Simões
Original: Conjunto de Mário Simões

 

Foi a primeira música incorporada no repertório do RCL. O original, gravado pelo Conjunto de Mário Simões, é uma engraçada rábula em torno de brincadeiras de escola. A vocalização despretensiosa e a contagiante pulsação rítmica – com o som da “choca” exageradamente alto para os actuais padrões de equilíbrio instrumental – dão-lhe um carácter particular. A versão do RCL mantém esta abordagem, em particular graças à interpretação descontraída de Mário Feliciano. Destaque-se, no entanto, aqui a utilização do reco-reco junto com a “choca” na condução rítmica e o recorte da guitarra de João Leitão mais presente do que no original.

 

 

Oh!
Música: Byron Gay e Arnold Jonhson
Letra: Byron Gay (1909) 
Versão portuguesa: Haroldo Barbosa (1953)
Original: Mafalda Sofia com o Thilo’s Combo (1967)

 

Foi também dos primeiros temas a ser trabalhados pelo RCL. “Oh!”, um original dos australianos Byron Gay e Arnold Jonhson, foi na verdade composto na primeira década do séc. XX. Mas foi da versão em português, gravada em meados da década de 60, cantada por Mafalda Sofia com acompanhamento do Thilo’s Combo, que o RCL partiu. A ausência de uma verdadeira secção de sopros – presente na versão original – conduziu a um trabalho de re-arranjos. Para conseguir a densidade de um som orquestral, ainda que de orquestra ligeira, a versão do RCL fez uso intensivo de outros recursos melódico-harmónicos, sobretudo dos teclados. O grupo introduziu pela primeira vez nos seus arranjos o saxofone durante a gravação do tema, e os coros foram tratados especificamente para que soassem à escala de uma orquestra. A voz principal é da actriz Ana Brandão, cuja energia corresponde por inteiro àquela contida na versão de Mafalda Sofia.

 

  Sensatez
Música: Carlos Canelhas
Letra: António José
Original: Simone com Thilo’s Combo

 

É um clássico. A voz de Simone sobre um instrumental Bossa Nova do Thilo’s Combo, para uma música de Carlos Canelhas com letra de António José. “Sensatez” é uma canção de amor cuja letra foge aos habituais lugares comuns. De todas as canções deste disco, “Sensatez” é talvez a que soa mais actual. A versão do RCL, menos agitada que a versão original, procurou uma abordagem mais íntima e próxima do ouvinte. Para isto, contribuíram vários factores, dos quais se destacam a interpretação vocal de Márcia e o facto de todo o acompanhamento harmónico – piano e guitarra – ser exclusivamente acústico. Destaque ainda para o trabalho de Sérgio Costa na flauta transversal, em particular o longo solo que não existia na versão “original”.

 

 

Pepe fado
Música:  Eugénio Pepe
Letra:  Francisco Nicholson
Original:  Eugénio Pepe e o seu Conjunto

 

Conta uma estória. Eugénio Pepe, autor e intérprete de “Pepe Fado”, compunha divertidos temas – o mais conhecido de todos: "Meninos Rabinos", a música que mandou uma geração inteira para a cama à hora certa. “Pepe Fado” é um suposto auto-retrato sob a forma de fado pop, em ritmo swing, no qual a guitarra portuguesa dá lugar a um orgão Farfisa. A versão do RCL é mais rápida, onde a guitarra de João Leitão e o piano de Sérgio Costa sublinham a pulsação rítmica, enquanto o Hammond de João Paulo Feliciano providencía, ora cortinas sonoras de fundo, ora incisivos solos instrumentais. A interpretação de Ian Muzcnik e os coros femininos optam por colocar o tema num registo menos anedótico que o da versão original.

  O Fado é bom para xuxú!
Música:  Frederico Valério
Letra:  Amadeu do Vale
Original:  Olivinha Carvalho com conjunto desconhecido

 

Também conhecido por “Fado Xuxú”, é um original de Frederico Valério para a voz de Amália Rodrigues. Mas, apesar da temática e da inspiração tropical, o “Fado Xúxú” de Amália não faz dançar. Foi numa outra interpretação que o RCL foi buscar inspiração. Num LP intitulado “Recordações de Portugal”, Olivinha Carvalho, uma brasileira do Rio e filha de pais portugueses, transformava o “Fado Xúxú” numa marchinha com uma sonoridade algures entre o Rio de Janeiro e uma qualquer vila do interior de Portugal. Acompanhada por um conjunto desconhecido, Olivinha releva todo o balanço tropical sugerido na letra da canção. A versão do RCL é mais pop, mais eléctrica e mais moderna. As frases rendilhadas de flautim, saxofone e clarinete do original, foram substituídas por arranjos de orgão, guitarra e piano. A bateria e as percussões acompanham todo este ambiente, onde a voz de Márcia encontra espaço para um registo divertido e convidativo para a dança.

 

 

Dois estranhos
Música e letra:  Artur Ribeiro e Casal Ribeiro
Original:  Fernanda Ferreirinha com o Conjunto Shegundo Galarza

 

É uma pérola perdida. Um fado-slow interpretado por Fernanda Ferreirinha, acompanhada pelo Conjunto de Shegundo Gallarza numa das suas melhores formações – um quarteto com orgão, guitarra eléctrica, baixo e bateria. A interpretação do RCL mantêm-se o mais fiel possível ao original, quer na formação instrumental, quer no espectro sonoro; no registo intimista ou até na coincidência de tanto Fernanda Ferreirinha como Ana Brandão serem cantoras e actrizes. O tema foi o último a ser gravado, já de madrugada, e é verdadeiramente uma interpretação ao vivo em estúdio, com músicos e cantora na mesma sala, sem overdubs. O que se ouve no disco é exactamente o que foi tocado nesse take.